A NOSSA DEPENDÊNCIA

Almograve - do árabe al-mugáuár, «o que faz incursões»

Vamos olhar a praia com outros olhos e mostrar essas novas imagens a todos os "dependentes" deste local. Vamos recordar aquilo que desapareceu com o tempo, mas que ainda paira na nossa memória. Convido-vos a partilhar a paixão pelo Almograve.


Maria Filomena Ponte Silva



segunda-feira, 7 de janeiro de 2019

   
   

   Na ida à praia, exercício que me obriga a andar com algum gosto, trincando um pouco de pão, lembro o que um colega costuma dizer-me, quando me vê a comer pão escuro: Na minha infância, sonhava com o pão branco que só alguns comiam. Agora está na moda consumir pão escuro!
   As minhas consumidas sinapses trazem-me a rota GR 11-E9 e eu sei que estou sobre ela, que atrás de mim tenho alguns quilómetros e que, à frente, tenho milhares. Teoricamente, posso ir a pé até S.Petersburgo. Nem andei cem metros, não cheguei ao cimo da estrada e já sinto uma pequena mochila com uma muda de roupa, a carteira e o passaporte. O Hermitage acena-me ao longe, muito ao longe por detrás daquilo que ainda nem vejo, mas, antes, devo contornar a costa da Galiza, do país Basco, de França, da Bélgica, da Holanda, da Alemanha, da Lituânia, da Letónia, da Estónia, para entrar na Rússia. São cerca de 4900 km. Se eu fizer trinta quilómetros por dia, chegarei à Rússia em 163 dias, ou seja, por altura dos exames nacionais, eu estarei a limpar as botas no tapete de entrada do Hermitage. E assim vou pensando, já a descer para a praia, encadeada pelo sol, cruzando-me com vários caminhantes que fazem os pequenos percursos desta grande rota europeia. Vieram-me à ideia os relatos dos mais velhos sobre quando o Almograve não tinha ligação por estrada com sítio nenhum. Uma deslocação a Odemira valia três horas sobre areias várias e a subida (e descida) de Vale da Gomes. O que era um tormento transformou-se numa prática desportiva da moda... como o pão escuro.         MªFilomena Ponte Silva